O Projeto
Cultos Marginais é uma Imersão Transmídia que busca lançar olhar crítico aos Pânicos Coletivos difundidos no imaginário ocidental, ressaltando como estes sistematicamente violentam minorias sociais e comunidades historicamente oprimidas. Para isso, são utilizadas diversas linguagens artísticas e pesquisas culturais transmidiáticas que apresentam diversas rimas poéticas com a Cultura Marginal Brasileira.
A imersão é parte do projeto homônimo, realizado pelo Núcleo Abantesma com financiamento do Fundo Municipal de Cultura de São José dos Campos, sendo composta por 10 séries de objetos artísticos produzidos coletivamente por 10 artistas do Vale do Paraíba Paulista.
A Cultura Marginal Brasileira
Nas décadas de 1960 e 1970, a Cultura Marginal foi um movimento cultural brasileiro responsável pela transformação e renovação de diversas linguagens artísticas, sobretudo a literatura, as artes visuais, o cinema e a música. Muitas pessoas podem, erroneamente, associar a Cultura Marginal apenas a Poesia Marginal protagonizada pelos artistas da Geração Mimeógrafo, mas este movimento cultural também abarcou o Cinema Marginal e as obras dos autointitulados Músicos Malditos, além de obras de grandes artistas plásticos como Hélio Oiticica.
É fácil entender o contexto em que a palavra “Marginal” é usada na Poesia Marginal e em diversos outros movimentos culturais das décadas de sessenta e setenta. Esses movimentos existiam às margens do regime militar e da indústria cultural. Dito isso, é inegável a existência de uma tensão no fato que esses “marginais”, principalmente os do eixo Rio-São Paulo, eram em sua maioria pessoas brancas oriundas das classes médias e da pequena burguesia.
Esse ideal de um Marginal pequeno-burguês é posto a prova nas décadas seguintes, pois já na segunda metade da década de 1990, artistas como Ferréz e Paulo Lins, muito apoiados em antecedentes como Carolina Maria de Jesus, retomam o termo Marginal para se referir a uma nova forma de pensar Literatura com a chamada Literatura Marginal que viria a influenciar muito o Teatro e o Cinema das próximas duas décadas. Nesse contexto, ser um artista marginal é fazer parte orgânica de uma cultura que se impõe como ferramenta de reflexão e criação, de uma ação individual que tem resultado coletivo.
Os Pânicos Coletivos
Já o conceito de Pânico Moral foi massificado no meio acadêmico a partir de 1972 com a publicação do livro Folk Devils and Moral Panics de Stanley Cohen, mas diversos pesquisadores contemporâneos defendem uma revisão crítica dos conceitos defendidos por Cohen, buscando a criação de descrições mais adequadas para realidades temporais e territoriais distintas. Nesse contexto, o Núcleo Abantesma escolheu utilizar o termo Pânico Coletivo para propor uma revisão conceitual de diversos fenômenos historicamente associados ao Pânico Moral.
Para fins de catálogo e estudo, o Núcleo Abantesma agrupa esses fenômenos em categorias que se mesclam em cenários complexos e frequentemente reforçam a violência contra populações minoritárias ou historicamente hostilizadas: populações racializadas, pessoas com deficiência ou neurodivergentes, membros da comunidade queer, refugiados e imigrantes, mulheres, entre outros.
Minicurso: o Anti-Herói na Cultura Marginal
Todo projeto aprovado em editais públicos precisa oferecer uma contrapartida social. Para este projeto, escolhemos ampliar a potência educativa de nossa pesquisa artística elaborando um minicurso online que visa abordar o histórico da Cultura Marginal Brasileira de forma crítica, trazendo questionamentos essenciais sobre classe, gênero e racialidade.
Esse minicurso pode ser acessado gratuitamente na Plataforma de Educação a Distância do Núcleo Abantesma. O conteúdo é composto por quatro unidades, contando com apostilas digitais com suporte a audiodescrição e videoaulas com tradução em LIBRAS.
Esta imersão digital é parte do Cultos Marginais, projeto nº 37/2022 beneficiado pelo Edital n° 001/P/2022 de Criação e Temporada do Fundo Municipal de Cultura de São José dos Campos. O conteúdo desta obra é de responsabilidade exclusiva dos autores e não representa a opinião dos membros do Conselho Gestor do Fundo Municipal de Cultura ou da Fundação Cultural Cassiano Ricardo.