Aparição n° 04 - a Tecelã Incendiária - Elemento: Fogo

Uma Aparição cruza a cidade seguindo os sussurros das ancestrais que contavam histórias sobre um fogo que não queima os animais ou as matas, mas incendeia os homens e suas certezas.
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Sobre a obra

Nesta performance, a artista K8 Valença percorre a cidade vestindo um vestido vermelho adornado de cordões de fio de malha, carregando um grande tear e ostentando cabelos trançados em diversas camadas de palha e fibra sintética. A performer constrói uma relação entre a cidade e o tear para seguir incendiando os diversos arranjos que compõe no instrumento, destruindo-os com um maçarico logo em sequência, um após o outro. É como uma força que dá a luz a universos inteiros apenas para que possam queimar.

Processo Criativo

A ideia geral da performance foi elaborada por Mandú, tendo como base diversas versões de Boitatá, entidade indígena representada no folclore como uma cobra de fogo que protege a natureza dos que querem destruí-la e que foi historicamente associada ao fenômeno do fogo-fátuo, e também na personagem Sycorax, conforme descrito em A tempestade de William Shakespeare: uma bruxa cruel e poderosa, mãe de Calibã, um homem negro escravizado, descrito como selvagem e deformado.
No desenvolvimento dos conceitos da performance, muito se conversou sobre o livro Cartas, informações, fragmentos históricos e sermões do Padre José de Anchieta, um compilado de escritos do referido padre, onde ele descreve suas visões simplistas e colonizadoras sobre as manifestações de espiritualidade indígena neste território. Também se conversou muito sobre o livro O Calibã e a Bruxa: mulheres, corpos e acumulação primitiva, de Silvia Federici, onde as personagens de Shakespeare são tomadas como símbolos do racismo e da misoginia que sustentam o capitalismo.
Após a consolidação do conceito geral, K8 Valença se concentrou em sua preparação física e na preparação de seu figurino, enquanto construía o trajeto da performance com a  ajuda de Mandú. O trajeto final abrangeu: Sesi São José dos Campos – Casa de Cultura Flávio Craveiro – Feira do Rolo do Colonial – Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro – UPA do Campo dos Alemães – Ponto de Entrega Voluntária do Campo dos Alemães e Cemitério Colônia Paraíso.

Ficha Técnica

Performer: K8 Valença.
Fotografias: Will S. Sousa.
Captação de vídeo: Mandú.
Figurino: K8 Valença.
Conceito e narrativa: Dae Lee, Diego Almeida, Eduardo Fernandes, GUIA, Henri Ferraz, K8 Valença, Mandú, Mariana Thaís, Morgana, Will S. Sousa.
Concepção de indumentária e maquiagem: Dae Lee, Diego Almeida, Eduardo Fernandes, GUIA, Henri Ferraz, K8 Valença, Mandú, Mariana Thaís, Morgana, Will S. Sousa.
Produção Executiva: Dae Lee, Diego Almeida, Eduardo Fernandes, GUIA, Henri Ferraz, K8 Valença, Mandú, Mariana Thaís, Morgana, Will S. Sousa.

Referências

Dedicamos essa performance para todas as mulheres que denunciaram os abusos sofridos na UPA do Campo dos Alemães e para todos os jovens que apareceram mortos pelas ruas do bairro sem que o estado fizesse qualquer esforço para averiguar quem os matou e por qual motivo o fez. Todo dia o Brasil enterra um Calibã e uma Bruxa.
Padre José de Anchieta (1554 – 1594). Cartas, informações, fragmentos históricos e sermões do padre Anchieta. Editora Civilização Brasileira.
William Shakespeare (1611). A Tempestade. Tradução de José Francisco Botelho, Companhia das Letras: São Paulo.

Silvia Federici (2004). O Calibã e a Bruxa: mulheres, corpos e acumulação primitiva. Tradução e públicação por Editora Elefante.

Elza Soares e Guilherme Kastrup (2015). A Mulher do Fim do Mundo. Circus.
Elza Soares e Rafael Ramos (2019). Planeta Fome. Deckdisc.
Esta imersão digital é parte do Cultos Marginais, projeto nº 37/2022 beneficiado pelo Edital n° 001/P/2022 de Criação e Temporada do Fundo Municipal de Cultura de São José dos Campos. O conteúdo desta obra é de responsabilidade exclusiva dos autores e não representa a opinião dos membros do Conselho Gestor do Fundo Municipal de Cultura ou da Fundação Cultural Cassiano Ricardo.
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