Aparição n° 05 - a Dama que Chora - Elemento: Aether

Uma Aparição cruza a cidade aos prantos. Seus gritos são um emaranhado de histórias: os gritos de ontem, de hoje e de amanhã quebram os espelhos e rangem entre os talheres, nos impedindo de saber quais ausências e lutos dão sentido a sua caminhada.
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Sobre a obra

Nesta performance, a artista GUIA personifica um lamento sem rosto que vaga pela cidade sem conseguir falar ou cantar. Seu desespero gera soluços, engasgos e sons vindos de outros planos. Esta Dama que Chora representa uma aparição que em diversas tradições orais está associada a comportamentos obsessivos, infanticídio, choro compulsivo e corpos d’ água. No Brasil, recebe os nomes de Bela da Noite e Mulher da Meia-noite, na Venezuela de La Sayona, no México de La Llorona, na região andina de Paquita Muñoz e assim por diante.
Essa figura também pode ser associada as Banshees, entes da mitologia celta capazes de prever a morte. Diz-se que seus gritos podem ser ouvidos a quilômetros de distância, tendo a força para estourar um crânio.

Processo Criativo

A ideia geral da performance foi elaborada por Mandú especialmente para GUIA, tentando sintetizar suas afinidades enquanto pessoas queer e racializadas criadas por avós em lares majoritariamente femininos. Um ponto central nas conversas foi as dicotomias desses lares: por um lado existia um carinho e cuidado muito intensos que emanavam da figura das avós, por outro existia uma grande demanda de responsabilidades, pois essas mulheres já estavam mais velhas e fragilizadas, precisando ser cuidadas tanto quanto cuidavam. Em paralelo a isso as mães, ainda jovens por terem engravidado muito cedo, tentavam ganhar a vida, sendo também muitas vezes atravessadas por questões de saúde ou amorosas.
A ideia, então, foi reunir uma grande diversidade de arquétipos do feminino, de forma que se chegou a figura da mulher de branco aos prantos e que está presente em tantas culturas. Muitas são as versões para esse choro: há histórias sobre mulheres de branco chorando a perda dos filhos ou dos maridos em alguma catástrofe, bem como versões onde o choro vem de uma saudade, ódio ou revolta por um abandono, adultério ou outra forma de preterimento. Há também as versões que apontam para um infanticídio que provoca profundo remorso. São infinitas as narrativas, muitas das quais nos remetem a personagens clássicas como Medéia, Electra, Circe e muitas outras.
Após a consolidação do conceito geral, Mandú e GUIA se concentraram em sua preparação física e na elaboração do trajeto da performance, enquanto Will S. Sousa e GUIA se concentraram na formulação estética da Aparição e na produção do figurino, contando com ajuda de toda a Seita. O trajeto abrangeu: Terminal Rodoviário Intermunicipal Frederico Ozanam – Shopping Centervale – Catedral de São Dimas – Deck da Avenida Anchieta (Mirante do Pôr do Sol) e Galeria Poente.

Ficha Técnica

Performer: GUIA.
Preparação física: Mandú.
Fotografias: Will S. Sousa.
Captação de vídeo: Mandú.
Figurino: Will S. Sousa.
Conceito e narrativa: Dae Lee, Diego Almeida, Eduardo Fernandes, GUIA, Henri Ferraz, K8 Valença, Mandú, Mariana Thaís, Morgana, Will S. Sousa.
Concepção de indumentária e maquiagem: Dae Lee, Diego Almeida, Eduardo Fernandes, GUIA, Henri Ferraz, K8 Valença, Mandú, Mariana Thaís, Morgana, Will S. Sousa.
Produção Executiva: Dae Lee, Diego Almeida, Eduardo Fernandes, GUIA, Henri Ferraz, K8 Valença, Mandú, Mariana Thaís, Morgana, Will S. Sousa.

Referências

Em memória de Dona Neusa Carvalho (1950-2021) e Dona Marluce Maria (1957-2016), nossas matriarcas.
Eurípedes (480-406 a.C). Medéia. Edição bilingue com tradução e posfácio de Trajano Vieira e Comentários de Otto Maria Carpeaux.
Wilkie Collins (1859). The Woman in White.
Paulo Pontes e Chico Buarque (1975). Gota D’ Água.
Rosa Maria Spinoso de Montadon (2007). LA LLORONA. Mito e Poder no México. Chazen Museum of Art. Disponível aqui.
Elza Soares e Guilherme Kastrup (2015). A Mulher do Fim do Mundo. Circus.
Elza Soares e Rafael Ramos (2019). Planeta Fome. Deckdisc.
Maria Talita Rabelo Pinheiro e Nerivaldo Alves Araújo (2020). La llorona no México e as damas de branco no Brasil. Disponível aqui.
Vários Artistas (2021). Gota D’Água {PRETA}: A Cor, o Corpo, a Voz e a Veia da tragédia. Disponível aqui.
Esta imersão digital é parte do Cultos Marginais, projeto nº 37/2022 beneficiado pelo Edital n° 001/P/2022 de Criação e Temporada do Fundo Municipal de Cultura de São José dos Campos. O conteúdo desta obra é de responsabilidade exclusiva dos autores e não representa a opinião dos membros do Conselho Gestor do Fundo Municipal de Cultura ou da Fundação Cultural Cassiano Ricardo.
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