Aparição n° 02 - a Enlutada e seu Presépio - Elemento: Terra

Uma Aparição cruza a cidade em rito fúnebre, pendurando em todos os cantos 82 pequenas bonecas que simbolizam o número de mortes de crianças e adolescentes pelas mãos do estado em 2021.
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Sobre a obra

Nesta performance, a artista Mariana Thaís reflete sobre o genocídio de crianças racializadas em nosso país. Na cultura popular, um presépio é uma pequena construção que abriga figuras que representam o estábulo em Belém e as cenas que se seguiram ao nascimento do menino Jesus. Desta forma, o presépio de uma enlutada é vazio, pois seus meninos estão mortos.
Os dados levantados em 2021 pelo Comitê Paulista pela Prevenção de Homicídios na Adolescência, ACNUR e UNICEF apontam que meninos negros permanecem como o grupo mais vulnerável à violência fatal no estado de São Paulo, em especial nas mortes decorrentes de intervenção policial. Neste ano, ocorreram 82 mortes de crianças e adolescentes em decorrência de intervenções policiais. 100% das vítimas eram meninos, sendo 63.4% destes meninos negros.
Os dados de 2021 evocam uma coincidência mórbida: em 1942 esse foi o exato número de crianças asfixiadas com gás no campo de concentração de Kulmhof, durante a Segunda Guerra Mundial. Essas 82 crianças estão representadas no Memorial às Crianças Vítimas da Guerra, uma escultura de bronze criada por Marie Uchytilová em Lídice, República Tcheca.

Processo Criativo

A ideia geral da performance foi elaborada por Mandú e aceita por Mariana Thais. A Frase motivadora da performance foi “Cuido da terra para os filhos que eu não tive e sei que se eu os tivesse, eles seriam tirados de mim”. As tensões da temática proposta foram extensamente elaboradas a partir de cosmologias e espiritualidades como o Cadomblé, a Santeria, o Vodun e manifestações populares de fé, que se conectam com a pesquisa desenvolvida pela artista e performer. Alguns dos arquétipos que inspiraram a performance foram:
Mambo: é a figura feminina utilizado para designar as Sumo Sacerdotizas nos cultos haitianos.
Iroko: é um orixá do candomblé Queto. No Brasil, é associado à árvore conhecida como gameleira, enquanto que, na África, é associado à árvore Milicia.
Mafumeira: os indígenas da Amazónia consideram-na a “mãe-das-árvores”, as suas raízes tubulares são também chamadas de sapopembas, que em determinadas épocas rebentam irrigando toda a área em torno dela e o reino vegetal que a circunda. É conhecida como “Árvore da Vida” ou a “escada do céu”, o seu diâmetro de porte belo e majestoso unido às sapopembas (raízes), muitas vezes formam verdadeiros compartimentos, transformados em habitações pelos indígenas, caboclos e sertanejos. A sua altura, porte e beleza é o destaque na imensidão da flora amazónica.
Yggdrasil: a árvore colossal, localizada no centro do Universo, que ligava os nove mundos da cosmologia nórdica.
Após a consolidação do conceito geral, Mandú e Mariana Thaís se concentraram na preparação física e na elaboração do trajeto da performance enquanto toda a Seita se concentrou na formulação estética da Aparição. Foram muitos desenhos, croquis, testes de maquiagens e tecidos até a versão final. O trajeto final da performance foi: Hospital Pró Infância – Calçadão de São José dos Campos – Mercado Municipal de São José dos Campos, Museu de Arte Sacra de São José dos Campos – Parque Roberto Burle Marx – Cine Santana.

Ficha Técnica

Performer: Mariana Thaís.
Preparação física: Mandú.
Fotografias: Will S. Sousa.
Captação de vídeo: Mandú.
Trilha Sonora: Diego Almeida e Mariana Thaís.
Conceito e narrativa: Dae Lee, Diego Almeida, Eduardo Fernandes, GUIA, Henri Ferraz, K8 Valença, Mandú, Mariana Thaís, Morgana, Will S. Sousa.
Figurino e maquiagem: Dae Lee, Diego Almeida, Eduardo Fernandes, GUIA, Henri Ferraz, K8 Valença, Mandú, Mariana Thaís, Morgana, Will S. Sousa.
Produção Executiva: Dae Lee, Diego Almeida, Eduardo Fernandes, GUIA, Henri Ferraz, K8 Valença, Mandú, Mariana Thaís, Morgana, Will S. Sousa.

Referências

Yasmin Thayná (2015). KBELA – O Filme. Disponível aqui.
Serena Assumpção (2016). ASCENSÃO. Selo Sesc, distribuição Tratore.
Emicida (2018). Mandume – Álbum 10 anos de Trinfo (ao vivo). Laboratório Fantasma.
Itamar Vieira Junior (2019). Torto Arado. Todavia.
Jeferson De (2019). M8 – Quando a Morte Socorre a Vida. Buda Filmes, Migdal Filmes, distribuição: Paris Filmes.
Vitor Rocha (2019). Cabô. Cabô é por cada menino negro que foi morto pelo Estado, por cada família que viu menino ir, mas não viu menino voltar, é sobre cada sonho negro interrompido por 1, 80 ou 111 tiros… cento e onze tiros e cabô. Gravação disponível aqui.
Gabriel Martis (2022). Marte Um. Embaúba Filmes.
Francisco Flavio Eufrazio (2022). Do genocídio da criança e do adolescente negro durante e após a escravidão. Artigo publicado na Revista Aedos. Disponível aqui.
Comitê Paulista pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (2022). Vidas Protegidas: por um estado mais seguro para nossos meninos e meninas. Publicado pelo Governo do Estado de São Paulo em parceria com a UNICEF. Disponível aqui.
Esta imersão digital é parte do Cultos Marginais, projeto nº 37/2022 beneficiado pelo Edital n° 001/P/2022 de Criação e Temporada do Fundo Municipal de Cultura de São José dos Campos. O conteúdo desta obra é de responsabilidade exclusiva dos autores e não representa a opinião dos membros do Conselho Gestor do Fundo Municipal de Cultura ou da Fundação Cultural Cassiano Ricardo.
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